Pesquisa Matéria desse Blog

terça-feira, 14 de maio de 2019 | 22:45 | 0 Comments

Para eles, o papa é herege

© Maxwell/WMOF2018/AFP Signatários de carta aberta acusam o papa de ter suavizado posições e se posicionado contra os mandamentos da Igreja

O papa Francisco está sendo acusado de heresia por um grupo de sacerdotes e teólogos. A denúncia, explicitada em carta divulgada no dia 30 de abril, é uma das mais graves acusações que podem ser feitas contra um clérigo e vem provocando crescente enfrentamento entre católicos ultraconservadores e moderados.

Na mensagem de 20 páginas, os religiosos conservadores pedem que o conjunto dos bispos católicos investigue Francisco pelo “delito canônico da heresia” e pregam que outros sacerdotes critiquem o papa publicamente.

Dizem ainda que decidiram tomar essa medida “como último recurso” para responder ao dano causado pelas palavras e ações do papa Francisco, “que deram lugar a uma das piores crises da história da Igreja Católica”.

Quais são as acusações contra o papa?
  • Os motivos para a acusação contra o papa, segundo os signatários, residem principalmente no fato de ele ter suavizado posições e, na opinião deles, se posicionado contra os mandamentos da Igreja.
  • Os estudiosos afirmam que Francisco tem dado sinais de abertura do Vaticano a homossexuais e divorciados, tem se aproximado demais de outras religiões e não tem sido enfático o suficiente em condenar o aborto. A carta traz ainda transcrições de declarações públicas e documentos assinados pelo papa para comprovar sua heresia.
  • Em um trecho do documento, o pontífice é acusado de aceitar que católicos divorciados e recasados civilmente possam ser admitidos, em certas circunstâncias, à comunhão.
  • A denúncia se refere principalmente ao documento Amoris Laetitia (A Alegria do Amor, em tradução livre), publicado por Francisco após o sínodo da família, realizado entre 2014 e 2015 para discutir mudanças na relação da Igreja com os fiéis.
  • Na declaração, o papa pede uma Igreja menos rígida e mais cheia de compaixão diante de qualquer membro “imperfeito”, como os divorciados e os fiéis que estão no segundo casamento civil. Na reunião de bispos, também se discutiu a possibilidade de comungar divorciados que se casaram novamente — desde que haja discernimento e uma preparação. A Igreja Católica considera o casamento indissolúvel e o novo casamento, um adultério.
  • Os signatários da carta aberta afirmam ainda que Francisco “protegeu e promoveu” clérigos homossexuais ativos e acredita que “a atividade homossexual não é gravemente pecaminosa”. O pontífice já recebeu transexuais e chegou a dizer que aqueles que rejeitam homossexuais “não têm coração”.
  • Também foi criticado por nomear arcebispo o religioso José Tolentino de Mendonça, que, segundo a carta, já se posicionou publicamente favorável à ideia de que o aborto é um direito das mulheres.
  • Para os signatários, ao elogiar as pessoas que “dedicaram suas carreiras a se opor ao ensino da Igreja e da fé católica”, Francisco “comunica a mensagem de que as crenças e ações dessas pessoas são legítimas e merecedoras de elogios”.
  • “Juntas, todas essas posições equivalem a uma rejeição total do ensino católico sobre o casamento e a atividade sexual, o ensino católico sobre a natureza da lei moral e o ensino católico sobre a graça e a justificação”, afirmam.
  • O documento ainda critica o papa por ter dito que as intenções de Martinho Lutero, fundador da Igreja Luterana, “não eram equivocadas” e ter assinado um comunicado conjunto com luteranos no qual mencionava os “presentes teológicos” da Reforma Protestante, que deu origem à religião após ruptura com a Igreja Católica.
  • Também menciona a aproximação do Vaticano com o islamismo como “herética”. Em fevereiro, o pontífice assinou um comunicado conjunto com o Grande Imã de Al Azhar dizendo que o pluralismo e a diversidade de religiões eram um “desejo de Deus”.
  • A carta ainda vai além e acusa o argentino de proteger religiosos denunciados por abuso sexual. O texto cita uma série de nomes de cardeais, bispos e padres envolvidos nos escândalos de pedofilia e abusos em países como Estados Unidos, Alemanha, Chile e outros.